terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Aborto

Tinha pensado que não iria falar sobre o aborto neste blog, porque apenas iria expressar a minha opinião e opção de voto, e isso, honestamente, não interessa para nada.
Mas, não aguento. Todos os dias ouço coisas que me fazes torcer as raízes dos cabelos, opiniões de pessoas que são contra o aborto e que, há falta de melhor, “inventam” qualquer coisa para impor a sua opinião e opção.
Atenção, eu não sou contra essas pessoas, nem contra as suas opiniões. Apenas sou contra alguns argumentos que apresentam, e que vou passar a descortinar.
Um dos argumentos que o movimento do não apresenta é o facto da pergunta estar mal formulada.
“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Em que aspectos é que esta pergunta está mal formulada, ou que não é clara, não sei. Ou melhor, não sabia. É que ontem estava sintonizado na Antena 3 e, no debate diário sobre o aborto, ouvi um advogado (não me lembro do nome) a dizer que a pergunta estava mal formulada porque era NEUTRA!!! Ou seja, o que aquele senhor defendia era que a pergunta deveria sofrer as seguintes alterações: onde se lê mulher, devia ler-se Mãe e onde se lê estabelecimento de saúde legalmente autorizado devia ler-se hospital. Assim, a pergunta não ficava neutra. Aliás como faz sentido que seja! E perante este facto deixo aqui uma proposta de pergunta que deve ir ao encontro do que este senhor considera uma pergunta facciosa e a favor da sua opinião:
Concorda com a despenalização da mãe, que mata o seu querido filho até às 10 semanas, num hospital que é pago com os seus impostos?
Perguntas neutras num referendo e numa democracia, que estupidez!
E por falar em impostos, leva a outro argumento ainda mais duvidoso. Vamos financiar os abortos com os impostos que pagamos. Ora, sem entrar em demagogia, se entrarmos nesse campo, também me vou recusar a pagar, por exemplo, quimioterapias a pessoas com cancro do pulmão porque fumaram uma vida toda. É demagogia, eu sei, mas não deixa de ter um pouco de verdade. E já não pagamos os tratamentos das mulheres que fazem um aborto clandestino e que vão ao hospital por causa de complicações?
Outro argumento prende-se com a questão das 10 semanas. Qual é a diferença entre 10 semanas e 10 semanas e 1 dia, perguntam os defensores do não. Nenhuma, digo eu. No entanto, acho que é simples de explicar: tem de existir um limite de tempo que permita a mulher decidir o que quer fazer. Com este argumento corremos o risco de ficar sempre na indecisão: porquê 10 semanas e não 12, 14, 20, ou 40 semanas? Porque sim!
Para terminar, acho que o argumento menos científico é este: com a despenalização do aborto passamos a ter um flagelo social, onde abortar vai passar a ser um acontecimento do dia a dia. Ou alguém me prova que fazer um aborto é uma coisa espectacular, ou então não faz muito sentido. Uma mulher acorda de manhã, toma o pequeno-almoço, vai às compras e lembra-se: “Epá, à tarde vou fazer um aborto.” Acho que não deve funcionar bem assim, pois não?
E o mais ridículo é agora alguns movimentos do Não afirmarem que se o Não ganhar, vão pedir a alteraração da lei para criar algum mecanismo que não ponha as mulheres na prisão. Ou seja, a mulher continua a ser uma criminosa, só que não vai presa. Um crime sem pena, o que também faz sentido! Duas considerações: primeira, se o não ganhar acho que não se deve mudar a lei, uma vez que se a maioria das pessoas estiver contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, então está a favor que se puna a mulher que aborta. E como estamos numa democracia devemos aceitar a vontade da maioria. E em segundo, e entrando novamente no campo da demagogia, acho que se o não ganhar, devemos alterar a lei, mas para aumentar a pena. Se estamos a matar uma pessoa, como defendem, de forma deliberada então passa a ser homicídio: 25 anos de prisão para essas pessoas.
Dia 11 vou votar SIM!
Porque acredito que deve ser uma escolha da mulher, e não uma decisão imposta pela sociedade que acha que o mundo é cor-de-rosa e que dando uns míseros tostões que a coisa se resolve. E como qualquer escolha é difícil é a mulher que tem o poder de decidir o que é melhor para ela e para um “futuro bebe” e é ela que vai suportar todas as consequências físicas ou psicológicas da sua decisão.
Muita coisa ficou por dizer, mas isso vou guardar para mim e para algumas conversas de café! Penso que o essencial está dito e foi sobretudo um desabafo...

1 comentário:

Anónimo disse...

E que grande desabafo!! Concordo contigo nalguns pontos e acho que o NÃO escolhe argumentos fáceis... escolhe aquilo que choca para convencer... mas na minha opinião só perde pontos.

Acima de tudo, vivemos numa democracia, e as mulheres devem ter o direito de escolher se querem ou não fazer um aborto!!

SIM ou NÃo é bom que ninguém deixe de ir votar no Domingo!